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O recente caso que repercutiu na mídia internacional (dos inúmeros que seguem na invisibilidade) do homicídio brutal de um homem negro em uma loja do Carrefour em Porto Alegre (e não é o primeiro caso de discriminação da empresa), me fez refletir a partir da ignorância e crueldade dos comentários nas redes sociais buscando justificativa para o ato de barbárie ocorrida. Ainda na mesma semana, uma mulher branca que se identificou como advogada foi presa em flagrante por injúria racial, lesão corporal e homofobia contra funcionários e clientes de uma padaria em São Paulo. Por uma questão óbvia (se a cor da pelo não tiver em jogo), não saiu de lá morta.
Então lembrei de um livro que li há alguns anos, que me fez reforçar o pensamento de que alguns problemas sociais são estruturais (como o racismo) e que o povo sem consciência de classe tende a reproduzir a violência e discriminação que historicamente sofre, confirmando a tese de que a tendência natural (a menos que se queira uma sociedade melhor) é que a vítima de hoje se torna o opressor de amanhã. A introdução do livro chamado Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch, sugeria que se completasse um formulário seguindo 3 regras simples. Nos espaços antecedidos pela letra "X", preenchesse com o nome de algum país pobre ou remediado. Nas lacunas acompanhadas da "Y" e "Z", inserisse o nome de nações ricas do Hemisfério Norte. Para os demais espaços, escolhesse uma das opções fornecidas entre parênteses ou alguma de sua preferência. Segue na sequência o formulário para que tirem suas conclusões:
A História do País X_______.A história do país X___ iniciou-se com o povoamento de grupos nômades provenientes do ___ (norte, sul, leste, oeste). Durante alguns milhares de anos, esses povos se espalharam por quase todo o território, sobrevivendo à base da agricultura rudimentar e da coleta de ___ (peixes, frutas), por meio de um sistema ___ (igualitário, sustentável). No século ___, porém, essas tribos foram conquistadas por poderosos exploradores do império Y ___, que passaram a usufruir do trabalho dos nativos, criando um sistema de exploração colonial. Em troca de pequenas manufaturas, os nativos forneciam aos estrangeiros uma série de matérias-primas essenciais para a crescente industrialização do império. Séculos depois, X ___ conquistou sua independência, mas manteve os laços de dependência econômica no âmbito da sociedade mercantilista.
O revolucionário ___, homem de grande coragem, esperança e bigode, tentou livrar o país da pujança econômica internacional e diminuir as contradições inerentes ao capitalismo. No entanto, seus ideais feriam os interesses da elite ___ (rural, escravista, mercantil, burguesa) e também de um novo país, Z ___. Esta nação buscava expandir seu mercado consumidor e apoiou covardemente o massacre aos rebeldes promovido por Y ___. Em consequência de tantos séculos de opressão, X ___ vive hoje graves problemas sociais e econômicos (NARLOCH, 2011).
Segundo o autor, existe um esquema tão repetido para contar a história de alguns países que basta misturar chavões, mudar datas, nomes de nações colonizadas, potências opressora, e pronto. O racismo no Brasil não é à toa. É estrutural também. O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Até 130 anos, os negros (pretos e pardos) traficados eram mantidos em condições subumanas de trabalho, sem remuneração e debaixo de açoite. O racismo estrutural é a naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Quem não conhece sua história, repete seu passado. Não basta não ser racista, você precisa ser antirracista.